quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Uma Cartografia do Teatro na Web


A viagem que se inicia com o “método cartográfico” é muito árdua e cheia de encruzilhadas; nesta não há o melhor caminho, nem o mais correto, não existe o verdadeiro, nem o falso, mas se encontra sim, o mais belo, o mais intenso, o que insiste em se presenciar, o que causa estranheza, temor...o que se equivoca, se espalha..., o que falha. (Denise Mairesse[1])

O que este sítio pretende desenvolver é uma cartografia, um mapa dessas obras. Esse mapa pode ser lido, de qualquer ponto. Nele, se pode entrar, em qualquer de suas partes. Como um procedimento de pesquisa, cartografar é compor uma paisagem que se monta e desmonta à medida que acontecem os "abalos"; é um tipo de desenho que se faz em movimento. O cartógrafo absorve matérias de qualquer procedência, ele é uma espécie de antropófago: vive de devorações, está sempre buscando/encontrando, usando/decalcando, teorias/elementos como alimentos para traçar suas cartografias (ROLNIK, 1989).

Bom ressaltar que esta cartografia é, de fato, resultado das Hibridações entre Teatro e Hipermídia, e será expandida em cada nova postagem. Problematizei como as possibilidades de aplicação da linguagem dessas novas escrituras mediadas por computador podem interferir nas práticas narrativas e modos de registro do processo de criação da cena, bem como, pensá-las como instrumentos do próprio ato da criação, então, é fundante neste blog, a revelação do corpo de construção desta cartografia que abordará as práticas narrativas hipermidiáticas do teatro.

Como é uma cartografia do fazer teatral disponibilizada no ciberespaço – o que já demanda especificidades de linguagem - penso ser necessário expor todo o percurso de identificação das categorias de análise. Estes grupos de categorias foram re-elaborados a partir de modelos já aplicados em outras áreas das linguagens artísticas – como categorias que procuram atender as especificidades e os interesses relativos a um estudo na área das artes cênicas.

O que se quer com esta cartografia, é contribuir com a produção de novos conhecimentos através da reflexão sobre as práticas narrativas hipermidiáticas da escritura cênica; que o ciberespaço, seja compreendido no âmbito desta pesquisa, como uma das esferas comunicativas de escrituras artísticas, crendo então ser justo, reconhecê-lo, como mais um espaço de inscrita e difusão da cena teatral, oferecendo a esta, um cenário por sua natureza efêmera, interativa e hipertextual. Assim como, o que se quer um dia, com o processo de criação de uma sala de ensaio online, será um risco.
SEGUINDO RASTROS CARTOGRÁFICOS
Trabalhar na construção desta cartografia, de tão peculiar constituição tem, entre seus desafios, uma escassez de precedentes, não em termos de utilização deste método, mas sim, pelas especificidades do fazer teatral. Não foi encontrado até o momento, um modelo para um projeto de cartografia que pudesse lidar com as amplas e diversificadas práticas narrativas hipermidiáticas de tantos outros projetos cênicos, cuja natureza é de infinitas hibridações artísticas, hoje tão recorrentes.

Por tudo isso, posso pensar esta cartografia, que dá sustentação à construção do arcabouço teórico da pesquisa e por ele é sustentada, como uma ciberetnografia; talvez por enxergá-la como cartografia de fronteira, híbrida; por ser o resultado da mistura de diferentes “métodos”, de diferentes autores/criadores, de diferentes áreas do conhecimento.

Chego a pensar que eu nem precisasse, para cartografar este objeto, de categorias definidas a priori, isto é, externas as obras em questão. Poderia, explicitamente, ouvir as próprias obras, deixando que categorias emergissem de seu interior. Mas examinar algumas propostas executadas em outras áreas artísticas torna-se importante, como referências tanto para este estudo quanto para o trabalho de outros pesquisadores.

Alguns esclarecimentos quanto a esta abordagem metodológica, faz-se necessário. Uma cartografia é um mapa, mas não significa que o pesquisador precise sair fazendo o mapeamento, segundo Rolnik:

Uma cartografia é diferente de um mapeamento; ela é a inteligibilidade da paisagem em seus acidentes, suas mutações; ela acompanha os movimentos invisíveis e imprevisíveis da terra - aqui, movimentos do desejo -, que vão transfigurando, imperceptivelmente, a paisagem vigente. (ROLNIK, 1989, p. 62).

O que o pesquisador-criador precisa fazer é fabular, criar afectos com os perceptos que o atinge. “Dele se espera, basicamente, estar mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento às linguagens que encontra, devore as que lhe parecem elementos possíveis para a composição de cartografias que se fazem necessárias” (ROLNIK, 1996; 1997). Sendo assim, pode-se dizer que é tarefa do cartógrafo dar língua aos afetos. Segundo Deleuze, percepto e afecto são isso:

Tentei definir o percepto como um conjunto de percepções e sensações que se tornaram independentes de quem o sente. Para mim, os afectos são os devires: ora eles nos enfraquecem, quando diminuem nossa potência de agir e decompõem nossas relações (tristeza), ora nos tornamos mais fortes, quando aumentam nossa potência e nos fazem entrar em um indivíduo mais vasto ou superior (alegria) (DELEUZE, 1998, p.74).

Para se ter uma idéia da dimensão do objeto de pesquisa, sem recortes e categorias definidas a priori, pude brincar com um dos buscadores disponíveis: o site de busca “Google”. Este dispositivo de busca encontrou no último período pesquisado, de 01 a 15 de janeiro, 15.600.000 páginas sobre o assunto “teatro”, 2.400.000 páginas sobre “teatro+sites, 2.710.000 páginas sobre “teatro+de+grupo” e 795.000 sobre “teatro+web”. Com esses números, percebo a importância destas tecnologias no caso em questão, a quantidade de produção hipermidiáticas, de e sobre os artistas da cena, mas também considero que esses dados não dizem do objeto em si e nada comprova do que está ocorrendo na prática.


[1] Denise Mairesse é mestre em Psicologia Social e Institucional Pela UFRGS. Autora do artigo Cartografia: Do método à arte de fazer pesquisa in FONSECA, Tânia M. G. e KIRST, Patrícia G.- Cartografias e Devires: A Construção do Presente.UFRGS Editora,2003, pág.259-271.

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