quarta-feira, 22 de agosto de 2007

INSTAURANDO DIÁLOGOS CARTOGRÁFICOS COM A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA

Gustavo Fortes Said, em seu texto, A História Estruturada no Discurso da Pós-Modernidade[1], discuti sobre a mídia e a construção do acontecimento, mas precisamente, a intervenção da mídia na produção historiográfica. Segundo o autor, está aí, a possibilidade de uma Historia Imediata - que muito nos interessa, pois é exatamente isso que acredito que está em construção com os sites de teatro: uma História Imediata do Teatro Brasileiro. Esta abordagem historiográfica implica uma relação temporal, no aqui imediato, não inviabilizando o fazer histórico. “Em contrapartida, operam-se também mudanças de percepção da história, agora ligada de tal forma ao presente histórico ou histérico (...) pelo acúmulo de informações, provocando, contraditoriamente, efeitos de afirmação e de negação do passado pelo presente”, afirma Said.

Esse novo tipo de abordagem histórica – a história imediata – supõe segundo Jean Lacouture (1995), uma proximidade temporal da redação da obra e do autor da mesma, em relação ao tema tratado, o que é bem próprio da atividade jornalística, sobretudo se consideradas as matérias transmitidas ao vivo pelos modernos meios eletrônicos. (...) A história imediata resgata, portanto, a discussão sobre a relação intrínseca mantida pelas estruturas e os eventos, já tão discutida pela Escola dos Anais, mas agora demarcada diferentemente em razão das características - a fragmentação e segmentação das sociedades e o novo status discursivo da cultura contemporânea – do ambiente pós-moderno no qual se insere esta atividade de pesquisa histórica. Centrada no fato de que através da mídia se promove a construção do imaginário histórico e a legitimação dos acontecimentos e das ações empreendidas pelos agentes sociais, a abordagem da história imediata acaba por aproximar a atividade do historiador da prática jornalística. A construção da realidade histórica está, assim, ligada às condições conjunturais da produção e da multiplicação de inúmeros discursos sociais, que se anunciam através dos acontecimentos divulgados pela mídia, reproduzindo aquilo que Braudel havia chamado de dialética das durações – do evento à conjuntura, e desta à estrutura, ou, em sentido inverso, da estrutura aos eventos.

O autor chama atenção para as especificidades próprias do veículo em questão, seu contexto social, e a mim caberia, acrescentar as especificidades da linguagem teatral, principalmente quando a proposta poderia ser uma abordagem histórica imediata sobre processos de criação de artistas da cena. Com este foco a questão ficaria cada vez mais líquida, movente, em direção a um estado futuro, mais fluídico, desdobrando-se mais e mais em novas questões, o que não é o caso desta tese. Em resumo a história imediata é resultado da própria mediação que sofre. A história imediata do teatro brasileiro, construída através dos sites disponíveis - que poderia ser aqui, tranquilamente, proposto como desdobramento desta pesquisa - seria necessariamente uma história mediada pelo computador, via as redes telemáticas, do/no aqui e agora.


Uma história construída em função da emergência destes grupos e da relação que os mesmos estabelecem com os mídias, destitui o sentido homogêneo de um fluxo histórico determinado aprioristicamente pelas teorias da modernidade e o conduz abertamente através das inúmeras virtualidades do seu curso. (...) Estes centros ou espaços de produção histórica estão ligados à mídia tradicional (jornal impresso, rádio e televisão) e também aos novos veículos (Tv a cabo, Tv via satélite, rádios comunitárias, Internet etc) que ao longo das últimas décadas têm introduzido, no contexto da pós-modernidade, novas práticas de linguagem, novos ambientes culturais, novas relações de poder e uma nova concepção de história, agora baseada na horizontalidade social.

[1] * Gustavo Fortes Said é professor de Teorias da Comunicação do Departamento de
Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí e mestrando em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
http://www.intercom.org.br/papers/xxi-ci/gt23/GT2307.PDF

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