terça-feira, 21 de agosto de 2007

HÍBRIDOS COMO NET-CENAS

Como essas práticas narrativas hipermidiáticas do fazer teatral, já estão disponibilizadas na internet, podemos fazer referência aos mais variados formatos, como por exemplo, sites dos edifícios teatrais, blogs de artistas da cena, os grupos de discussão
sobre questões da linguagem teatral, fotologs de atores[1], videologs de montagens, podcasts de grupos de teatro [2], etc.

Antes de começar a cartografá-los busquei nos escritos de Marcuschi[3] orientações metodológicas sobre a diferenciação entre termos. Segundo este autor, essas escrituras virtuais podem ser caracterizadas por gêneros digitais publicados em diversos ambientes virtuais:

TERMINOLOGIA BÁSICA PARA A COMPREENSÃO DAS NET-CENAS:

I) - AMBIENTES DIGITAIS:

Os ambientes devem ser distinguidos dos gêneros em vários sentidos. Esses ambientes, também denominados de entornos virtuais, abrigam e por vezes condicionam os gêneros. Wallace, diz que os ambientes “não são domínios discursivos, mas domínios de produção e processamento textual em que surgem os gêneros”. ( Marcuschi apud wallace, 2004, pg. 26)

Afirmo que o que apresentarei a seguir, não deve ser lido como uma tipologia nem uma relação exaustiva de ambientes proposta pelo autor, como ele mesmo esclarece. Principalmente, considerando as inovações ocorridas no ano de 2005, período posterior ao lançamento de seu livro. Portanto, os ambientes da internet identificados são os seguintes:


1) AMBIENTE WEB [World Wide Web] – conhecido como WWW ou WEB, este ambiente é a própria REDE uma combinação de bibliotecas, quiosques, guias, jornais, shoppings, enciclopédias, catálogos, agendas, currículos pessoais etc. Trata-se de um ambiente de busca de todos os tipos, descentralizado, interativo e passível de expansão ilimitada.

2) AMBIENTE E-MAIL [correio eletrônico] – trata-se sobretudo de um meio de comunicação interpessoal com remessa e recebimento de correspondência entre familiares, amigos, colegas de trabalho, empresas, pesquisadores e assim por diante. Ao lado das salas de bate-papo, o e-mail é hoje o mais popular ambiente virtual.

3) FOROS DE DISCUSSÃO ASSÍNCROCOS – aqui se forma um ambiente para discussão de temas específicos, listas de grupos e assim por diante. As relações são continuadas e movidas por interesses comuns. É um ambiente que envolve vários gêneros.

4) AMBIENTE CHAT SÍNCRONO – trata-se dos ambientes em salas de bate-papos entre várias pessoas simultaneamente ou em ambiente reservado. Tem vários formatos no estilo de uma conversação em tempo real. Também vem sendo usado para aulas chat.

5) AMBIENTE MUD – o nome vem dos jogos que tinham esses nomes e eram jogados por pessoas que formavam uma rede de jogadores. Há outros jogos como o MOO, MUSH que permitem criar personagem, inserir músicas, falas etc. São ambientes interativos.

6) AMBIENTES DE ÁUDIO E VÍDEO [videoconferências] – são ambientes em que se tem vídeo e voz síncronos e servem a várias finalidades, particularmente para conferências. Embora esteja ainda no início de sua exploração, essa tecnologia é muito sofisticada. Quando muito desenvolvidos, esse deverão trazer grandes novidades e mudar as relações interpessoais hoje em boa parte anônimas nos chats. (Marcuschi, 2004, pg. 26/27).



II) GÊNEROS DIGITAIS:


O artigo de Marcuschi, de onde foram retirados os ambientes acima citados, focaliza principalmente a questão dos novos gêneros emergentes no contexto da tecnologia digital. O autor revela que compreende esses gêneros como relativamente variados, mas que a maioria deles tem similares em outros ambientes, tanto na oralidade quanto na escrita. Cito trechos de seu texto que definem o que seja o gênero digital:


Um gênero é um padrão de comunicação criado pela combinação de forças individuais, sociais e técnicas implícitas numa situação comunicativa recorrente. Um gênero estrutura a comunicação ao criar expectativas partilhadas acerca da forma e do conteúdo da interação, atenuando assim a pressão da produção e da interpretação. (...) O gênero parece ser um enquadre [frame] útil para analisar e projetar sistemas convencionais online porque ele fornece o pano de fundo [foregrounding] para o meio discursivo e encoraja o exame de caminhos nos quais características domeio moldam as práticas que se dão no seu interior. (Marcuschi apud Erickson, 2004, pg. 24/25)


Da categorização dos gêneros digitais, em múltiplos formatos, apresentada por Marcuschi, me ajudou na identificação dos gêneros que já estão sendo utilizados pelo teatro. Adaptei já em suas definições, isto é, empregando nelas os termos teatrais, os gêneros digitais considerados passíveis de serem utilizados como práticas narrativas hipermidiáticas do fazer teatral e, principalmente, de serem utilizados na construção deste estudo-blog:

· e-mail – correio eletrônico com formas de produção típicas e já padronizadas. Inicialmente um serviço (electronic mail), resultou num gênero (surgiu em 1972/3 nos EUA e esta hoje entre os mais praticados na escritura).

· Chat; pessoas interagindo simultaneamente em relação síncrona e no mesmo ambiente. Este gênero se desdobra em aberto, reservado, agendado e privado.

· Chat em aberto (bate-papo virtual em aberto – room-chat) – inúmeras pessoas interagindo simultaneamente em relação síncrona e no mesmo ambiente. Surgiu como IRC na Finlândia em 1988.

· Chat reservado (bate-papo virtual reservado) – variantes dos room-chats do tipo anterior, mas com as falas pessoais acessíveis apenas aos dois interlocutores mutuamente selecionados, embora possam continuar vendo todos os demais em aberto.

· Chat agendado (bate-papo virtual agendado - ICQ) – variante dos anteriores, mas com a característica de ter sido agendado e oferecer a possibilidade demais recursos tecnológicos na recepção e envio da arquivos.

· Chat privado (bate-papo virtual em salas privadas) – são os bate-papos em sala privada com apenas dois parceiros de diálogo presentes; uma espécie de variação dos bate-papos de tipo Chat em aberto.

· Entrevista com convidados: forma de diálogo com perguntas e respostas num esquema diferente dos tipos anteriores.

· e-mail educacional: interações entre pessoais de um pequeno grupo (sala de aula, oficina, elenco e etc) tanto no formato de e-mail ou de arquivos hipertextuais podendo determinar temáticas diversas realizáveis em contatos assíncronos.

· Vídeo-conferência interativa: realizada por computador e similar a uma interação face a face; uso da voz pela rede de telefonia e a cabo.

· Aula chat (chat educacional) – interações síncronas no estilo dos chats com finalidade educacional, geralmente para tirar dúvidas, dar atendimento pessoal ou em grupo e com temas prévios.

· Lista ou Grupo de Discussão (mailing list) - grupos de pessoas com interesses específicos em teatro, que se comunicam em geral de forma assíncrona, mediada por um ou mais gerentes do grupo que organizam as mensagens (eventualmente fazem triagens) e postam documentos de diferentes naturezas.

· Endereço eletrônico: o endereço eletrônico seja pessoal ou para a home page, tem hoje características típicas e é um gênero.

· Weblog (blogs; diários virtuais): são diários pessoais de criadores da cena; uma escrita autobiográfica com observações diárias ou não, agendas, anotações em geral. Há também desdobramentos neste gênero: são diários de grupos de teatro; são diários de espetáculos.

Marcuschi quando trata de ambientes virtuais e gêneros digitais considera a home page (portal, sítio, página) não como gênero e sim, como ambiente virtual. Para ele, autor, “ela não passa de um ambiente específico para localizar uma série de informações, operando como um suporte e caracterizando-se cada vez mais como um serviço eletrônico” (2004 pg. 25/26).

Destaco que este ambiente me interessa, particularmente, como um possível formato a ser estudado e adaptado, para a concepção do experimento de prática narrativa hipermidiática, apesar das considerações do autor citado. Penso que este ambiente comporta, muito bem, um espaço para os processos de criação de artistas da cena. Nesta categoria se enquadram sites que tem como principal característica grande quantidade de links já em sua página inicial, abrangendo todos os aspectos e categorias de sites existentes na web. Outra característica de obras dessa natureza é que costumam veicular em sua primeira página notícias sobre a área em questão, fórum de debates, entrevistas com artistas consagrados e seções de artigos.

No Ciberpodcast número 3 do Centro Internacional de Estudos e Pesquisa em Cibercultura – CIBERPESQUISA da UFBA[4] , o Prof. Dr. André Lemos declara que o formato site tenderá a desaparecer, dando lugar, majoritariamente, ao blog, ou melhor, ao que ele denomina, de site/blog. Concordando plenamente com esta reflexão, principalmente por considerar esta hibridação, site/blog, passível de proporcionar ao artista da cena uma manipulação direta com este formato, na sua maioria, pré-determinado, acolho esta idéia como proposta para o projeto de concepção da prática narrativa hipermidiática apresentada neste estudo, no decorrer da construção deste blog.
Cabe agora a mim, tanto como artista quanto como mestre de ofício, iniciar o exercício de cartografar estas escrituras que nos trazem o teatro – sua história, produções, processos, criadores, rastros, fragmentos, etc. – compreendendo sua linguagem e suas funções filosóficas, sociais e políticas; seu papel na contemporaneidade.

[1] O fotolog é um tipo de diário on-line (weblog), localizado em sites especializados, em que qualquer usuário pode postar fotografias digitalizadas e comentários. A análise que se segue refere-se, especialmente, aos fotologs que têm como conteúdo principal a veiculação de fotos amadoras sobre a vida privada. Segundo uma pesquisa da empresa americana de estatísticas StatSoft R&D, realizada em 2004, 13,6 % dos usuários da Internet veiculam fotografias pessoais para, através da rede, compartilhá-las com outros. (fonte: http://www.studium.iar.unicamp.br/22/04.html).
[2] O podcast é um sistema de produção e difusão de arquivos sonoros que guardam similitudes com o formato dos programas de rádio. O sistema funciona da seguinte forma: com um computador doméstico equipado com um microfone e softwares de edição de som, o usuário grava um programa (sobre o que quiser), salva como arquivo de som (MP3, por exemplo) e depois torna-o disponível em sites que são indexados em agregadores RSS (Really Simple Syndication)[3]. O usuário baixa o arquivo para o computador e daí para seu tocador de MP3. O sistema, criado pelo ex-VJ da MTV americana Adam Curry, pressupõe a cadeia completa de produção e de distribuição. Fonte: Podcast. Emissão Sonora, futuro do rádio e cibercultura. in 404nOtF0und, n. 46, junho de 2005., in http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/404nOtF0und/404_46.htm (12/06/2005).
[3] MARCUSCHI, Luis Antônio – Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital in MARCUSCHI, Luis Antônio e XAVIER, Antônio Carlos (org.) – Hipertexto E_Gêneros_Digitais. Rio de Janeiro. Editora Lucena, 2004.
[4] http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/cibercast/2005_10_01_archive.html

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