quinta-feira, 30 de agosto de 2007

SITES DE GRUPOS DE TEATRO E COMPANHIAS COM PEQUENAS IDÉIAS INOVADORAS.

Perceptos que me atingiram de cheio foram idéias simples, realizáveis com pequenas ações. O que me estimulou a trazê-los para esta cartografia foi o fato de reconhecer a generosidade desses criadores, em disponibilizar suas idéias inovadoras.

Inspirados em argumento da dinamarquesa Karen Blixen, o GRUPO SOBREVENTO[1] recria um sarau do final do século passado e resgata uma velha forma de divertir e se divertir. Apresentado em São Paulo em 1993, O THEATRO DE BRINQUEDO foi o primeiro espetáculo do SOBREVENTO a ter estreado fora do Rio de Janeiro. Sua estréia na cidade deu-se em 1994, durante o evento NØS&OS BONECOS, no Centro Cultural do Banco do Brasil.
Figura 6: Imagem do Teatro de Brinquedo do Grupo SOBREVENTO.
Há cem anos na Europa, as famílias costumavam ter um pequeno teatro em casa, pequeno o suficiente para caber no meio da sala de visitas. À noite, reuniam-se parentes e amigos para que se contasse uma história qualquer. Podia ser Aladim, mas também podia ser Hamlet. Os personagens, os cenários e o texto haviam sido comprados em uma livraria e, depois, recortados, pintados e montados com cuidado. Com a vinda do Rádio, do Cinema e da Televisão, o tal teatrinho perdeu-se no tempo. Resgatar, hoje, o Teatro de Brinquedo requer uma boa dose de coragem. O Teatro sofisticou-se para se sobrepôr aos recursos que o Cinema oferece e a Televisão fez do planeta uma aldeia. Buscando formas simples de contar uma história, deparamo-nos com os antigos Toy Theatres e suas ingênuas possibilidades de encenação. Ingênuas, porém, aos nossos olhos, encantadoras.

Outra idéia genial e sensível é o Teatro na Janela[2] da Cia. Artezões do Corpo para formação de platéias e cidadania.


A Cia. Artesãos do Corpo realizou durante dois anos, semanalmente, o Teatro na Janela, onde cenas de no máximo 10 min aconteciam na janela do Estúdio da Cia. que dá para a Rua Martim Francisco. Dirigido principalmente às crianças da região, ocupou cada vez mais espaço no cotidiano do elenco e da rua. A responsabilidade com esse projeto cresceu e a cada apresentação nos víamos diante de inúmeras possibilidades cênicas, todas muito saborosas, mas também nos víamos diante das dificuldades financeiras para comprar material, já que não repetíamos as performances (o Teatro na Janela é um verdadeiro comedor de maquiagem e figurino). Crescia também as responsabilidades com as crianças que iam aumentando em número e precisavam de cuidados para não atravessar a rua, já que os motoristas não respeitam a faixa nem o aviso de escola existente na esquina. As motos, principais causadoras de acidentes na região, nem sequer se preocupam em diminuir a velocidade, andam em cima das calçadas e não respeitam nada nem ninguém. Como o DSV não podia estar sempre nos dando apoio e muito menos a escola da região se dispôs a nos ouvir, ficávamos nós mesmos com essa responsabilidade. As crianças se posicionavam na calçada prontas para sonhar, acreditar que a fada existe, que o Dono do Restaurante se apaixonou pela boneca Shirley e virou abóbora - foi muito difícil ter que desistir desse projeto por falta de patrocínio.
Perdemos o tempo. Perdemos os tempos lentos. A globalização exige agendas cheias: ter muitas coisas para fazer é sinal de sucesso.O ócio ganhou status de pecado capital. Ficar ao léu olhando o céu? Vagabundo!Assim, ganhamos outras “janelas” que hoje se chamam Windows... E é por essa janela que muitos passam horas e horas do dia e da noite, esquecendo de outros horizontes.
Abrimos mão do direito à janela. Aquela janela em que nos debruçávamos para olhar como o dia estava passando, como estavam as nuvens no céu: com isso, podíamos “cheirar” os sinais metereolológicos ou intuir pela cor do céu ao entardecer se iria fazer frio ou calor. Simplesmente olhar.....Lógico que havia a típica fofoqueira, a moça que se dava ao desfrute, o que olhava escondido..Mas , todos estavam se dando ao direito dos tempos lentos. Ainda encontramos esse hábito nas cidades do interior – ainda bem. Hoje, o que nos leva à janela nas cidades, é o susto: uma freada brusca, um grito, uma sirene. As janelas nem abrem mais: perdemos as janelas que se abriam em duas folhas. Abrir a janela, um ato que exige braços longos? Nem pensar. Outros movimentos preciosos para nossa saúde mental também se foram, perder a janela não é um ato isolado.
O Teatro na Janela procura recuperar a poesia do cotidiano, das diferentes cores do dia e da noite, o hábito de olhar e de ser visto. De recuperar um tempo que seja de pausa, de sentir o vento, de saborear o dia. Dentro e fora, fora e dentro, como uma Banda de Moebios (o oito invertido). Fazer o Teatro na Janela convida a fantasia.... É um mundo infinito de possibilidades. Coloca o homem novamente no centro da história que está sendo contada. Dá para pegar os fatos imediatos e colocá-los na janela, trazendo uma outra forma de reflexão sobre os mesmos, bem como recuperar o imaginário e fatos da história passada ou recente. Sugiro que olhemos livros de fotos que tenham como tema janelas e portas. E como fica o corpo diante de portas e janelas que temos que abrir cotidianamente? Aliás, como são as portas e janelas de hoje?
Os Artesãos do Corpo em dois anos de apresentações ininterruptas na janela de seu estúdio, pode observar inúmeras situações deliciosas e outras nem tanto ( a visita da polícia com colete a prova de balas e revolver nas mãos, em plena tarde, atendendo a uma denúncia de barulho....) e descobriu que as pessoas gostam de um olhar quase inocente, indo contra a corrente que considera os programas de TV de baixa qualidade como desejo maioria das pessoas. Espero que voltemos em breve a realizar o Teatro na Janela. Muitos nos pedem, pois alegrava a rua, mesmo quando chovia.... Tinha gente que assistia dos prédios.
O que vocês acham disso???

Mirtes Calheiros

[1] http://www.sobrevento.com.br/brinqued.htm

[2] http://www.ciaartesaosdocorpo.com.br/

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei muito da idéia, e diria mais, Teatro na Janela do(Windows), vão em frente!