sexta-feira, 17 de agosto de 2007

NET-CENA

No ano de 1979 iniciei-me no oficio do teatro. Além do meu aprendizado como atriz, no Curso de Formação de Ator da Escola de Teatro da UFPA, exerci junto à categoria teatral, além do palco, outras funções dessa arte: diretora, dramaturga, cenógrafa, iluminadora, figurinista e tantas quantas foram necessárias para a minha capacitação como Mulher de Teatro. Quadro muito peculiar da realidade brasileira, onde a autoformação é o caminho dos profissionais da cena, em todo o país. Estou consciente que meu desempenho, tanto como criadora quanto como mestre de ofício, necessita de novas configurações; precisa estar distante da realidade - e está - das artes dos mestres de ofício de um tempo ainda muito próximo, como bem escreveu Palácios, no prefácio do livro O Ciberespaço como fonte para os jornalistas[1], de onde “bebi de canudinho”, a primeira postagem deste blog:


“(...) E havia carpinteiros, ferreiros, moleiros, ourives, sapateiros e até jornalistas. Todos, mestres de seus ofícios, exercendo suas artes com perfeição, repassando-as tal e qual para seus aprendizes, que um dia também seriam mestres e saberiam tudo que haveria para saber, conheciam todos os segredos de sua ocupação”. (Palacios; 2003, pg. 07)



No tempo do hoje, tenho a convicção de que nenhum de nós, criadores e mestres do ofício da cena, sabe tudo que haveríamos de saber e tão pouco, todos os segredos dessa ocupação. Não haveríamos de saber, pois isto seria a morte de nossa arte. Por isso, farei um esforço para nestas folhas de papel dizer, em palavras, o que seja para mim, a net-cena. Ao partir do que sei ou talvez tenha inventado ou mesmo roubado, pois segundo Deleuze, “roubar é o contrário de plagiar, de copiar, de imitar ou de fazer como; roubar um conceito é produzir um conceito novo” (Gallo apud Deleuze; 2003, pg 34), o meu conceito de net-cena será pro-criado no decorrer da construção deste sítio virtual, não pelo simples desejo de hibridizar a cena teatral com a cena multimidiática, mas para reinventar incessantemente, interpretar continuidades, buscar potencializações, vislumbrar e propor rupturas para a Arte do Teatro, meu ofício e paixão.

[1] Publicação da Editora Calandra de Salvador-BA,, 2003.

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